Poesia Espanhola

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Baltasar del Alcázar
(1530-1606)

 

Soneto

Decidi revelar-vos em soneto
O meu segredo, Inês, bela inimiga;
Mas, por mais ordem que ao fazê-lo eu siga,
Não pode já caber neste quarteto;

Chegados ao segundo, vos prometo
Que não se há-de el’ passar sem que eu o diga;
Mas estou feito, Inês, uma formiga
Que tonta gasta os versos do soneto.

Vede, ó minha Inês, quão duro é o fado,
Se tendo eu o soneto em minha boca
E a ordem de dizê-lo já estudado,

Lhe conto os versos todos e hei notado
Que, pela conta que a um soneto toca;
já este meu, Inês, vai acabado.

 

Francisco de la Torre
(1534?-1594?)

 

Soneto

Sigo, silêncio, teu estrelado manto,
de transparentes lumes guarnecido,
inimigo do sol esclarecido,
ave nocturna de agoureiro canto.

O falso mago Amor, com o encanto
de palavras quebradas pelo olvido,
me converteu razão mais o sentido,
meu corpo não, por desfazê-lo em pranto.

Tu, que sabes meu mal, tu, que assististe
à causa principal do meu tormento,
por quem fui venturoso e desgraçado,

ouve-me a dor, tu só, pois que a um triste
a quem persegue o duro céu violento,
não fica bem que el’ saiba seu cuidado.