De Changuito

 

Em Lisboa, entre o Príncipe Real e a Praça das Flores, situava-se a única livraria totalmente dedicada à poesia em Portugal, sob o nome de Poesia Incompleta, o que, nas palavras de Vasco Graça Moura, “envolve um princípio de paradoxo: nunca encontrei livraria mais completa para a poesia do que esta Poesia Incompleta… Dispõe de um catálogo impressionante de livros de poesia, não apenas em português, cobrindo praticamente todas as épocas, desde os primórdios da literatura até anteontem (só porque os livros que terão saído ontem ainda não foram distribuídos…). Tem à frente um jovem livreiro que profissionalmente conhece tudo: sabe dos autores, sabe das edições, sabe das antologias, sabe das revistas, aborda as matérias com a necessária precisão e um quam satis de ironia.” (Diário de Notícias, 4.8.2010).

Pois este jovem livreiro é Mário Guerra, que gosta de ser tratado de Changuito, e, segundo Isabel Coutinho, “aprendeu a gostar de poesia com a avó e também com a mãe, a actriz Maria do Céu Guerra. […] Há muitos anos a explorar o bar do Teatro da Barraca, onde organiza a animação cultural, teve também um bar na Bica, em Lisboa, onde também vendia livros. Aos 34 anos, perdeu a paciência e farto de ir a livrarias onde lhe diziam “esse livro está esgotado” ou “esse livro não existe”, resolveu passar de leitor a vendedor de livros.” (Público, 25.11.2008). E como sui-generis vendedor de livros, Changuito é também “o seu sócio principal, patrão, empregado, moço de fretes e fumador com estilo”… (blog Tantas Páginas, 21.1.2012). E assim, ao arrepio do habitual, este one-man-bookstore que gosta de partilhar saberes vai fazendo da sua livraria “um lugar de culto” entre os amantes do texto poético.

Changuito esteve há pouco no Rio de Janeiro e nos deu seu testemunho sobre o poeta que aqui nos interessa mais. Como se verá, palavras bem propícias ao “Dia Nacional da Poesia”, que neste 14 de março o Brasil celebra.