
Num poema de Peregrinatio ad Loca Infecta, «Tentações do apocalipse», Jorge de Sena escreve: Que os sóis desabem. Que as estrelas morram. / Que tudo recomece desde quando a luz / não fora ainda separada às trevas / do espaço sem matéria. Nem havia um espírito / flanando ocioso sobre as águas quietas, / que pudesse mentir-se olhando a Criação. / (O mais seguro, porém, é não recomeçar.) Performativo trágico, a convocar o fim dos tempos, mas para pensar um recomeço de todas as coisas – ou nem isso: fim sem recomeço, fim do fim, coisa nenhuma.
Que relação existe entre a poesia e o fim de todas as coisas – convocação, exorcismo, desejo ou temor? Como pode o poema dizer os fins – Auschwitz, Vietnam, Kosovo – e reivindicar a resistência da esperança? Entre o culminar do tempo no Apocalipse joanino e a dissolução da fala em Paul Celan, como se enuncia o fim do mundo?
A revista eLyra, editada pela rede de investigação internacional LyraCompoetics, dedicará o seu número 5 ao tema «poesia e fim do mundo».
Aceitou-se propostas de artigos até 31 de março de 2015, em: lyracompoetics@letras.up.pt
Para mais informações, consultar: Elyra